terça-feira, 21 de dezembro de 2010

CID NARDY, UM GRANDE MESTRE


Meu primeiro contato com o Cid Nardy foi através de sua dissertação de mestrado sobre cultura organizacional, a qual utilizei como referencial teórico em minha dissertação sobre o impacto da cultura nos sistemas de remuneração.
Tempos depois nos encontramos por acaso em um colégio paulistano para participarmos de palestras sobre carreiras profissionais. Houve uma inversão na ordem das palestras e fomos apresentados para discutirmos quem iria fazer a palestra em primeiro lugar.  Lá estava o Cid Nardy que eu conheci pelo seu trabalho acadêmico. Era um sujeito alto, com vasta cabeleira branca, aparentando mais idade do que realmente tinha. Sua simpatia era irradiante,  sua voz tinha uma entonação suave e calma.  É claro que entabulamos uma boa conversa e quase nos esquecemos das palestras. Lembro-me ainda que o Cid estava preocupado com mais dois compromissos à tarde e até brinquei com ele sugerindo que deveria “pegar mais leve”, que a vida era curta.
Algum tempo depois eu tive o prazer de convidá-lo para uma palestra na FEI sobre o seu livro “Desafios da Mudança” e também por outro motivo muito especial: ele foi aluno da FEI-ESAN, em São Paulo no curso de Administração. É dispensável falar que a palestra foi  muito bem conduzida pelo Nardy e ele se sentiu bastante emocionado por participar de um evento na instituição em que ele se graduou como Administrador. Apesar de ser também engenheiro, era na carreira de Administrador que ele se identificava mais profundamente, fato que o levou a participar durante longos anos da diretoria do Conselho Regional de Administração.
Foi, portanto, com tristeza que soube, através de um amigo comum, o prof. José da Cunha Tavares do seu falecimento. Foi realmente uma pena que o Cid tenha partido tão cedo, quando ainda tinha tanto para contribuir com o ensino de Administração e com a formação dos nossos jovens.
Seu nome me fez lembrar o herói espanhol El Cid, cuja nobreza de caráter era cantada em prosa e verso. Dizia-se que era um tão nobre súdito para tão pouco nobre rei. Sobre o Cid tenho a dizer que era um tão nobre mestre para uma vida tão curta.

Renato Ladeia
FEI

sábado, 5 de junho de 2010

A ÉTICA E O MEIO AMBIENTE

“Com o tipo de instrumentos que hoje manejamos, se não houver um comportamento ético, ou seja, uma pré-disposição individual e institucional de buscar o bem comum, o que conseguiremos será a destruição” (Ladislau Dowbor).


O momento é extremamente rico para algumas reflexões acerca da ética de um modo amplo, pois há uma preocupação sintomática na sociedade, senão generalizada, pelo menos tem estado presente em quase todos os meios de comunicação, nas universidades, nos debates públicos, nos partidos políticos, nas escolas etc. Afinal o que é ética? Fala-se muitas vezes em ética no sentido de regras, de leis, normas etc. Ética é muito mais do que isso. Os casos veiculados pela mídia sobre corrupção nos poderes executivo, judiciário e legislativo, há muito saíram do campo da ética e se enquadram em categorias de crimes, estelionatos e por ai afora.

A transgressão de leis explícitas que estabelecem o limite entre o que é público e o que é privado, sai do campo ético, passando para o criminal, pois a ética pressupõe valores de consciência moral. Como escreveu o filósofo Emmanuel Kant: A vontade só pode ser considerada moralmente boa ou má se é livre. Assim, a primeira condição para a possibilidade de consciência moral é a liberdade da vontade. Dessa forma, uma atitude ética pressupõe a liberdade de opção do indivíduo entre um ato bom ou mau. Caso a opção for pelo ato mau, ele não sofrerá nenhum tipo de punição, pelo menos de natureza penal ou econômica.

As atitudes do ser humano em relação ao meio ambiente, aos poucos estão deixando a categoria de problema ético para ingressar em uma categoria que chamaríamos de penal, pois a humanidade está assumindo uma posição mais categórica em relação aos riscos da degradação ecológica. Por outro lado, mesmo quando as sociedades estabelecem leis explícitas quanto à utilização de determinados produtos químicos, despejo de poluentes em rios e na atmosfera, desmatamentos etc., se não existirem mecanismos de controle e punição eficientes poucos vão respeitar as regras. Este problema é endêmico em nosso país e estaria possivelmente relacionado a uma cultura tradicionalmente avessa às regras e normas e que tudo pode ser resolvido através do “jeitinho” ou “molhando” a mão do fiscal ou outra autoridade superior.

Infelizmente, em nosso país ainda predomina, de forma cruel, a lei do individualismo, fruto do racionalismo desvinculado das emoções e da percepção do outro. O interesse pelo outro só ocorre quando pode ser utilizado como instrumento para a satisfação de interesses personalistas ou narcíseos. Essa concepção alcançou seu apogeu no final do século XX e está inserida na ideologia do sistema capitalista, que busca a eficiência em termos de resultados financeiros acima de qualquer outro valor humano. O que importa é a realização do projeto individual em todos os campos da atividade humana seja na vida privada ou através das organizações que manipulam de forma eficiente a possibilidade de realização dos desejos de consumo, poder e exposição na mídia. A organização cujo único objetivo esteja centrado na busca do resultado contábil estimula de forma perversa a destruição do outro sem ter consciência de que poderá ser ela mesma vítima desse processo. As organizações deste tipo, de um modo geral, tratam também as pessoas como meros números e não geram nos indivíduos o envolvimento com relação à instituição, pois na busca do sucesso contínuo, geram milhares de seres humanos excluídos.

Não havendo uma ética da reciprocidade, não pode haver vínculos possíveis entre os indivíduos e as instituições em que trabalham, estudam ou das cidades em que moram. A lógica desse sistema ideológico fundado na perversão (paixão mecanicista desvinculada da emoção humana, do amor, da solidariedade) pode levar a humanidade à sua própria destruição, pois não são incutidos nos indivíduos, através das famílias, das escolas e das organizações empresariais ou públicas a cidadania em seu sentido mais profundo, ou seja, o respeito pelo outro. Esta babel gerou também a consciência egoísta dos direitos, no sentido também de satisfazer apenas as necessidades individuais, sem a preocupação com os deveres.

A emergência de uma discussão ética com relação a comportamentos relacionados não só com o meio ambiente, mas em relação a outros valores sociais, que são considerados normais por sua prática usual por políticos, funcionários públicos, empresários e cidadãos de modo geral, pode ser o resultado do início de uma revolução moral em nossa sociedade. Assim, torna-se fundamental estimulá-la em todos os espaços possíveis e, principalmente, nos lares, onde se forja a estrutura básica de um cidadão.