GLOBALIZAÇÃO, ORIGENS, DINÂMICA E CRISE
ORIGENS
Embora os temas da unificação econômica do mundo e da emergência, nos marcos do capitalismo de uma “universal interdependência das nações”, já ocupassem lugar destacado nas reflexões da economia política clássica dos séculos 18 e 19 (De Adam Smith a Karl Marx), a reflexão específica sobre o tema da “globalização” é relativamente recente. Suas origens teóricas mais próximas remetem a desenvolvimentos variados ocorridos no mundo acadêmico anglo-saxão a partir dos anos 60, com destaque para as reflexões pioneiras do teórico da cultura Marshall McLuhan sobre a constituição de uma nova “aldeia global” pelos modernos sistemas de comunicação de massa, e também para as do sociólogo Daniel Bell sobre a convergência das diferentes formações sociais mundiais para uma única “sociedade pós-industrial”, baseada na informação. Em uma versão mais branca, podemos incluir, entre os precursores da reflexão teórica sobre a globalização, os autores da chamada escola inglesa de relações internacionais (Martin Wight e Hedley Bull).
A grande onda de reflexão específica sobre a globalização, no entanto, só ganhou corpo nos 80, a partir de uma farta literatura produzida por quadros da Harvard Business School dos EUA. Entre estes se destacam autores como Michael Porter e Kenich Ohmae. Com a ascensão global do projeto neoliberal ao longo da década e o colapso do campo socialista em 1989-1991, esta “onda” ganhou contornos de um autêntico maremoto. Como foi ocorrer com conceitos que se tornaram modismos intelectuais, isto alimentou o surgimento de inúmeras e variadas interpretações. As linhas mestras do discurso dominante sobre o tema, no entanto, não se afastaram muito dos marcos teóricos formulados originalmente pela literatura especializada na área de administração.
Com relação à origem da chamada globalização econômica, é importante destacar, ao contrário do discurso dominante que a coloca como novidade, é que esse processo acompanha o capitalismo desde o seu desenvolvimento nas formas comerciais, manufatureiras e bancárias nas cidades do norte da Itália no século 15. Foi precisamente a transformação do capital “natural” (imóvel, territorializado) em capital “abstrato” na forma de dinheiro (móvel e sem território específico), que impulsionou a expansão comercial da Europa, resultando nos descobrimentos e no lançamento das bases materiais do mercado mundial. Essa expansão, por sua vez, viabilizou o desenvolvimento e a consolidação do capitalismo europeu, que completou a unificação econômica e política do mundo em torno de si já no século l9.
DINÂMICA DA GLOBALIZAÇÃO
Um dos fatores principais da dinâmica da globalização, é o constante fluxo de capitais entre os países centrais e os países periféricos (economicamente dependentes), com os segundos exportando produtos primários e outros de baixo valor agregado ou complementares e os primeiros exportando produtos de alto valor agregado (produtos de alta tecnologia). Esse fluxo, favorável aos países centrais que controlam os capitais financeiros e detém o monopólio da tecnologia de ponta, mantém uma constante hegemonia (domínio) desses Estados Nacionais sobre os demais. Esse domínio é assegurado pela crescente acumulação de lucro dos países centrais ou a chamada tríade (EUA, Europa e Japão) através do pagamento de royalties, remessa de lucros, importação de componentes das matrizes etc.
Esse processo é mantido através do exercício do monopólio de tecnologia pelos países centrais. Essas tecnologias variam de acordo com o desenvolvimento do sistema produtivo e de novas tecnologias. Um exemplo é a indústria têxtil que até o início do século 20 era controlada por países como a Inglaterra e atualmente é uma indústria considerada de baixo valor agregado.
Wallerstein considera que o sistema global ou sistema mundo está ancorado sob uma hierarquia entre os vários sistemas nacionais, proporcionando um sistema de controle e dominação dos países desenvolvidos sobre os demais (em relativo desenvolvimento e subdesenvolvidos). De acordo com o autor, não existe a possibilidade de um nivelamento do padrão de vida dos países do primeiro mundo com os demais, mesmo considerando o processo de globalização crescente das economias. A necessidade de acumulação constante e crescente do capitalismo inviabiliza qualquer possibilidade de nivelamento, pois essa dinâmica é essencial para a sobrevivência do próprio sistema.
Desde a década de 1990, observou-se um crescente avanço das empresas multinacionais nos países periféricos, estabelecendo-se em vários setores das economias desses países. O crescimento com base em dados de 1999, representou um avanço de 146% das empresas transnacionais nos países mais pobres. O crescimento dessas empresas nos países do chamado terceiro mundo ocorreu, na maioria das vezes, via substituição de empresas nacionais através de aquisições, fusões e joint-ventures. Portanto, foram poucos investimentos diretos (ID) que representariam a colocação de capitais de risco nos países subdesenvolvidos, e o mais grave, é que muitos investidores internacionais utilizam poupança desses países para ampliarem seus investimentos, como é o caso dos financiamentos do BNDES para financiamento de empresas transnacionais no Brasil.
Outro dado importante nesse processo de internacionalização das economias da maioria dos países pobres é que os investimentos anteriormente citados, não geraram o crescimento das exportações, ampliando o nível de dependência econômica em relação às potências capitalistas centrais. Teoricamente, a globalização acena com a possibilidade de crescimento das exportações de produtos de maior valor agregado pelos países mais pobres para fazer frente à crescente demanda por moedas “fortes” como o dólar para pagar seus compromissos internacionais. Também é sabido que os produtos primários vem de forma crescente, perdendo valor no mercado internacional, exigindo em contrapartida, o aumento constante do volume de exportações desses produtos.
Na maioria dos países há um elevado nível de regulamentação com relação a algumas atividades econômicas, dificultando o acesso às empresas transnacionais. Entretanto, há uma forte pressão das potências capitalistas centrais no sentido de demover as fronteiras e regulamentações para facilitar a entrada dessas empresas aos mercados de serviços. O avanço nesse segmento saltou de 9,4% em 91 para 26,1% em 99, indicando uma abertura dos países subdesenvolvidos para o capital internacional. Esse dado não seria tão preocupante se o fluxo de capitais fosse constante e crescente para os países periféricos. Entretanto, ai se coloca uma das grandes fragilidades do sistema, pois a ampliação do controle desse setor por parte do capital internacional cria uma camisa de força gerando a dependência crescente por novos recursos para o pagamento dos lucros e royalties gerados pelos investimentos internacionais.
FATORES DE CRISE
O sistema de acumulação crescente de capital financeiro gera a necessidade de uma rotação constante dos capitais em busca de novas alternativas via custos mais baixos de mão de obra, fontes de matérias-primas baratas e baixo nível de regulamentação das economias e isenção de impostos. Assim, as empresas transnacionais circulam seus capitais por todo o globo em busca de novas vantagens competitivas para enfrentar a concorrência cada vez mais predatória. Sistemas produtivos são deslocados do Brasil para o México, do México para a Tailândia e assim sucessivamente, visando à manutenção dos níveis de crescimento da lucratividade.
Entretanto, esse modelo apresenta sinais de esgotamento, pois o trabalhismo vem também avançando em todo o globo, pois o sistema de comunicação e o relacionamento global dos sindicatos e organizações voltadas para a proteção do trabalho levam reivindicações por melhores salários e condições de trabalho mais adequadas em toda a extensão do globo. Talvez em futuro próximo, países como a China cujo salário médio de acordo com dados do Banco Mundial está em torno de 30 dólares mensais e com um baixíssimo nível de benefícios sociais, os trabalhadores se organizem e compliquem a vida dos investidores, obrigando-os a partir em retirada em busca de novas alternativas.
Além do trabalhismo que pode reduzir vantagens competitivas atuais em muitos países periféricos como China, México e Tailândia, outro problema se avizinha: o esgotamento do êxodo rural como fonte de força de trabalho barata. O século 20 foi palco de um dos maiores movimentos da população do campo para as cidades, invertendo uma distribuição demográfica mantida por décadas. Em meados de 1950 a população brasileira na zona rural representava algo em torno de 70% da população total. Atualmente se observa uma inversão dessa distribuição populacional.
O deslocamento de fábricas para várias partes do globo, as fusões, jointventures e as aquisições internacionais torna necessário também o deslocamento de profissionais especializados e executivos que representam custos significativos num contexto de alta competição.
Além da força de trabalho, o custo dos recursos naturais também se apresenta como uma ameaça em cenários estratégicos, pois vêm sendo ampliadas as pressões de ambientalistas, ONGS e governos para que as empresas internalizem os custos da exaustão dos recursos naturais não renováveis ou renováveis em longo prazo. Além dos recursos, a questão da degradação ambiental se constitui também um sério problema para a competitividade.
ORIGENS
Embora os temas da unificação econômica do mundo e da emergência, nos marcos do capitalismo de uma “universal interdependência das nações”, já ocupassem lugar destacado nas reflexões da economia política clássica dos séculos 18 e 19 (De Adam Smith a Karl Marx), a reflexão específica sobre o tema da “globalização” é relativamente recente. Suas origens teóricas mais próximas remetem a desenvolvimentos variados ocorridos no mundo acadêmico anglo-saxão a partir dos anos 60, com destaque para as reflexões pioneiras do teórico da cultura Marshall McLuhan sobre a constituição de uma nova “aldeia global” pelos modernos sistemas de comunicação de massa, e também para as do sociólogo Daniel Bell sobre a convergência das diferentes formações sociais mundiais para uma única “sociedade pós-industrial”, baseada na informação. Em uma versão mais branca, podemos incluir, entre os precursores da reflexão teórica sobre a globalização, os autores da chamada escola inglesa de relações internacionais (Martin Wight e Hedley Bull).
A grande onda de reflexão específica sobre a globalização, no entanto, só ganhou corpo nos 80, a partir de uma farta literatura produzida por quadros da Harvard Business School dos EUA. Entre estes se destacam autores como Michael Porter e Kenich Ohmae. Com a ascensão global do projeto neoliberal ao longo da década e o colapso do campo socialista em 1989-1991, esta “onda” ganhou contornos de um autêntico maremoto. Como foi ocorrer com conceitos que se tornaram modismos intelectuais, isto alimentou o surgimento de inúmeras e variadas interpretações. As linhas mestras do discurso dominante sobre o tema, no entanto, não se afastaram muito dos marcos teóricos formulados originalmente pela literatura especializada na área de administração.
Com relação à origem da chamada globalização econômica, é importante destacar, ao contrário do discurso dominante que a coloca como novidade, é que esse processo acompanha o capitalismo desde o seu desenvolvimento nas formas comerciais, manufatureiras e bancárias nas cidades do norte da Itália no século 15. Foi precisamente a transformação do capital “natural” (imóvel, territorializado) em capital “abstrato” na forma de dinheiro (móvel e sem território específico), que impulsionou a expansão comercial da Europa, resultando nos descobrimentos e no lançamento das bases materiais do mercado mundial. Essa expansão, por sua vez, viabilizou o desenvolvimento e a consolidação do capitalismo europeu, que completou a unificação econômica e política do mundo em torno de si já no século l9.
DINÂMICA DA GLOBALIZAÇÃO
Um dos fatores principais da dinâmica da globalização, é o constante fluxo de capitais entre os países centrais e os países periféricos (economicamente dependentes), com os segundos exportando produtos primários e outros de baixo valor agregado ou complementares e os primeiros exportando produtos de alto valor agregado (produtos de alta tecnologia). Esse fluxo, favorável aos países centrais que controlam os capitais financeiros e detém o monopólio da tecnologia de ponta, mantém uma constante hegemonia (domínio) desses Estados Nacionais sobre os demais. Esse domínio é assegurado pela crescente acumulação de lucro dos países centrais ou a chamada tríade (EUA, Europa e Japão) através do pagamento de royalties, remessa de lucros, importação de componentes das matrizes etc.
Esse processo é mantido através do exercício do monopólio de tecnologia pelos países centrais. Essas tecnologias variam de acordo com o desenvolvimento do sistema produtivo e de novas tecnologias. Um exemplo é a indústria têxtil que até o início do século 20 era controlada por países como a Inglaterra e atualmente é uma indústria considerada de baixo valor agregado.
Wallerstein considera que o sistema global ou sistema mundo está ancorado sob uma hierarquia entre os vários sistemas nacionais, proporcionando um sistema de controle e dominação dos países desenvolvidos sobre os demais (em relativo desenvolvimento e subdesenvolvidos). De acordo com o autor, não existe a possibilidade de um nivelamento do padrão de vida dos países do primeiro mundo com os demais, mesmo considerando o processo de globalização crescente das economias. A necessidade de acumulação constante e crescente do capitalismo inviabiliza qualquer possibilidade de nivelamento, pois essa dinâmica é essencial para a sobrevivência do próprio sistema.
Desde a década de 1990, observou-se um crescente avanço das empresas multinacionais nos países periféricos, estabelecendo-se em vários setores das economias desses países. O crescimento com base em dados de 1999, representou um avanço de 146% das empresas transnacionais nos países mais pobres. O crescimento dessas empresas nos países do chamado terceiro mundo ocorreu, na maioria das vezes, via substituição de empresas nacionais através de aquisições, fusões e joint-ventures. Portanto, foram poucos investimentos diretos (ID) que representariam a colocação de capitais de risco nos países subdesenvolvidos, e o mais grave, é que muitos investidores internacionais utilizam poupança desses países para ampliarem seus investimentos, como é o caso dos financiamentos do BNDES para financiamento de empresas transnacionais no Brasil.
Outro dado importante nesse processo de internacionalização das economias da maioria dos países pobres é que os investimentos anteriormente citados, não geraram o crescimento das exportações, ampliando o nível de dependência econômica em relação às potências capitalistas centrais. Teoricamente, a globalização acena com a possibilidade de crescimento das exportações de produtos de maior valor agregado pelos países mais pobres para fazer frente à crescente demanda por moedas “fortes” como o dólar para pagar seus compromissos internacionais. Também é sabido que os produtos primários vem de forma crescente, perdendo valor no mercado internacional, exigindo em contrapartida, o aumento constante do volume de exportações desses produtos.
Na maioria dos países há um elevado nível de regulamentação com relação a algumas atividades econômicas, dificultando o acesso às empresas transnacionais. Entretanto, há uma forte pressão das potências capitalistas centrais no sentido de demover as fronteiras e regulamentações para facilitar a entrada dessas empresas aos mercados de serviços. O avanço nesse segmento saltou de 9,4% em 91 para 26,1% em 99, indicando uma abertura dos países subdesenvolvidos para o capital internacional. Esse dado não seria tão preocupante se o fluxo de capitais fosse constante e crescente para os países periféricos. Entretanto, ai se coloca uma das grandes fragilidades do sistema, pois a ampliação do controle desse setor por parte do capital internacional cria uma camisa de força gerando a dependência crescente por novos recursos para o pagamento dos lucros e royalties gerados pelos investimentos internacionais.
FATORES DE CRISE
O sistema de acumulação crescente de capital financeiro gera a necessidade de uma rotação constante dos capitais em busca de novas alternativas via custos mais baixos de mão de obra, fontes de matérias-primas baratas e baixo nível de regulamentação das economias e isenção de impostos. Assim, as empresas transnacionais circulam seus capitais por todo o globo em busca de novas vantagens competitivas para enfrentar a concorrência cada vez mais predatória. Sistemas produtivos são deslocados do Brasil para o México, do México para a Tailândia e assim sucessivamente, visando à manutenção dos níveis de crescimento da lucratividade.
Entretanto, esse modelo apresenta sinais de esgotamento, pois o trabalhismo vem também avançando em todo o globo, pois o sistema de comunicação e o relacionamento global dos sindicatos e organizações voltadas para a proteção do trabalho levam reivindicações por melhores salários e condições de trabalho mais adequadas em toda a extensão do globo. Talvez em futuro próximo, países como a China cujo salário médio de acordo com dados do Banco Mundial está em torno de 30 dólares mensais e com um baixíssimo nível de benefícios sociais, os trabalhadores se organizem e compliquem a vida dos investidores, obrigando-os a partir em retirada em busca de novas alternativas.
Além do trabalhismo que pode reduzir vantagens competitivas atuais em muitos países periféricos como China, México e Tailândia, outro problema se avizinha: o esgotamento do êxodo rural como fonte de força de trabalho barata. O século 20 foi palco de um dos maiores movimentos da população do campo para as cidades, invertendo uma distribuição demográfica mantida por décadas. Em meados de 1950 a população brasileira na zona rural representava algo em torno de 70% da população total. Atualmente se observa uma inversão dessa distribuição populacional.
O deslocamento de fábricas para várias partes do globo, as fusões, jointventures e as aquisições internacionais torna necessário também o deslocamento de profissionais especializados e executivos que representam custos significativos num contexto de alta competição.
Além da força de trabalho, o custo dos recursos naturais também se apresenta como uma ameaça em cenários estratégicos, pois vêm sendo ampliadas as pressões de ambientalistas, ONGS e governos para que as empresas internalizem os custos da exaustão dos recursos naturais não renováveis ou renováveis em longo prazo. Além dos recursos, a questão da degradação ambiental se constitui também um sério problema para a competitividade.
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