quinta-feira, 14 de julho de 2022

BILHETE PREMIADO

BILHETE PREMIADO Era uma quinta-feira, véspera de um feriadão. O office-boy ia sair para fazer serviço externo e muita gente do departamento aproveitou para pegar um dinheirinho para o final de semana. Naquela época, ainda não existiam agências bancárias nas empresas e era comum os salários serem pagos em dinheiro. Os riscos de assaltos fizeram com que as empresas optassem pelos depósitos em bancos. O garoto era bastante responsável e ninguém imaginava que ele pudesse ser abordado por um malandro e levasse o dinheiro dos colegas. Mas Edinho encontrou um outro tipo de sujeito, que naqueles tempos andavam a solta pelas ruas. Era o vigarista, sujeito com lábia fora do comum que atuando com um comparsa, iludia até os menos incautos. Um deles ficou no banco observando quem sacava dinheiro vivo e depois avisou o comparsa. O vigarista aproximou-se do Edinho ofereceu-lhe um bilhete que dizia premiado. Com a ajuda do cumplice, iludiu o menino, convencendo-o que seria um bom negócio trocar o dinheiro pelo bilhete que era muitas vezes mais do que ele tinha na sacola. Hoje, bastaria arrancar a sacola do menino e correr, mas naqueles tempos existia uma “ética” em que era melhor convencer pela conversa do que pela força. O negócio foi feito e Edinho chegou radiante no escritório para contar a novidade para os colegas. Ninguém acreditou de imediato e acharam que ele estava brincando. Mas não era brincadeira. Ele comprou mesmo o tal bilhete. Foi um choque geral, pois teve gente que tirou o dinheiro para pagar o aluguel, outros para fazer as despesas de mercado. O que fazer? Como o pai do Edinho era um antigo funcionário da empresa, ele foi chamado para reparar as perdas e danos. Era muito dinheiro para o seu bolso de operário e quase dava o seu dava o seu ganho mensal. Além disso, alegou e com razão, que não era correto dar essa responsabilidade para um garoto. A situação ficou tensa, pois caso o pai não reparasse o prejuízo, o menino até poderia perder o emprego e arruinaria a sua carreira, pois o pai lutou muito para conseguir uma vaga para o filho naquela grande empresa. E foi assim que o seu João, um velho mecânico, se desfez da suada poupança e quitou todos os prejudicados pela ingenuidade do seu menino. Chegando em casa Edinho levou uma surra de cinta para largar de ser idiota e passou a entregar religiosamente o salário para o pai. João, criado às antigas, acreditava que só uma surra colocaria o menino nos eixos. Quanto ao bilhete premiado, os colegas colocaram num quadro e penduravam numa parede do departamento para nunca mais ser esquecido. Entrou por uma porta e saiu pela outra quem quiser que compre outro bilhete.

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