quinta-feira, 14 de julho de 2022

A TRISTE SAGA DE BRUNO E DON

Bruno e Don eram visionários. Acreditavam na força da natureza, na inocência dos povos originários da América. Povos cujos antepassados distantes deixaram a Ásia para encontrar a sua terra prometida, pois já não havia mais recursos para sua sobrevivência. Eles amavam a floresta, seus rios, suas árvores e seus bichos. Acreditavam, tal como os indígenas, nos espíritos das florestas, cuja força e generosidade protegia a todos. Tinham um encontro com outros povos e seguiram num barco, sozinhos, pois não tinham medo. Acreditavam que seus valores eram maiores do que a maldade, do que a força do dinheiro que alimentavam os maus espíritos. Estavam sem armas. Armados apenas com a esperança e o amor que a nutria. Acreditavam que nada poderia impedí-los. Os maus teriam medo de ataca-los, pois eram queridos e respeitados por todos. Mas o encontro nunca aconteceu e eles ficaram no meio do caminho, que não tinha uma pedra, mas a crueldade. Mas numa curva do Rio Javari ouviram tiros que espantaram pássaros e bichos. Don sentiu dores no peito e Bruno no ventre e na cabeça. Pensaram nos indígenas, nos filhos e nas mulheres. Amanhã os indígenas, a floresta e os bichos serão órfãos daqueles que os defendiam da ganância. Nos momentos finais em que sentiram a dor sufocante da morte, talvez pensaram se realmente valeu a pena. Seus últimos lamentos voaram com o vento pelas trilhas das matas e pelas ondas dos rios os velhos espíritos acolheram seus amigos no leito de morte. Mas seus lamentos acordaram os homens e as crianças e muitos saíram para procura-los. Julgaram-nos perdidos na imensidão da mata, mas eram experientes mateiros. Aprenderam com os povos indígenas os caminhos dos homens e já teriam voltado se de fato tivessem tido um desencontro. Mas seus algozes confessaram o crime e onde seus corpos sem vida foram escondidos. O mundo chorou o cruel assassinato de dois homens bons, cujo único defeito era amar demais aqueles que eram fracos e desprotegidos, os indígenas, as florestas, os rios e os bichos. Que será de nós? pensam os povos indígenas que vivem sendo massacrados desde a chegada dos europeus em 1500. Restará alguma esperança para esses povos que vivem fugindo do temido encontro com os brancos? Vários heróis lutaram pela sobrevivência dos povos originários, como o Marechal Rondon, os grandes irmãos Villas-Boas, Darcy Ribeiro, Chico Mendes e tantos outros. Mas força da “grana” tem sido mais forte. O capital precisa sempre e sempre de lucros constantes, e as florestas e índios são apenas obstáculos para o seu apetite voraz. “Índios precisam trabalhar, produzir”, é o que dizem os maus espíritos que vivem do dinheiro e para o dinheiro. A vida é apenas um instrumento para a acumulação constante. Viver não é preciso, ganhar sim, é necessário.

PESQUISAS ELEITORAIS: POR QUE ACREDITAR NELAS?

As pesquisas erram, mas não mentem. É óbvio que me refiro às pesquisas sérias, realizadas com métodos estatísticos consagrados. Alguns críticos das pesquisas comentam que nunca foram entrevistados pelas tais pesquisas, mas isso é absolutamente normal. Num universo de mais de cem milhões de eleitores estar numa amostra de dois mil eleitores, é quase como acertar as seis dezenas na Mega Sena. Acontece, às vezes, de alguém ser abordado por um entrevistador e ser abandonado no meio da pesquisa porque ele descobriu que já completou o número de pessoas com nível de escolaridade superior ou estado civil, como já ocorreu comigo. As pesquisas podem ser consideradas como uma fotografia antecipada dos resultados, mas pode errar muito feio, pois até o dia do pleito, muita coisa acontece, pois, a sociedade é dinâmica. Podem surgir mudanças no comportamento dos eleitores, novas informações, notícias bombásticas verdadeiras ou falsas sobre os candidatos, traições, mudanças ambientais etc. Para se realizar uma pesquisa é necessário um planejamento muito rigoroso para a seleção da amostra que vai representar a população como um todo, incluindo nele os dados demográficos do país, como o percentual de mulheres e homens, a divisão por faixas etárias, níveis de renda, estados civis, nível de escolaridade, local de residência, religião, grupo étnico. Quem paga as pesquisas? Os institutos de pesquisa trabalham por encomenda de órgãos de imprensa, governos, partidos ou fazem as pesquisas e vendem os resultados para serem publicados com exclusividade por este ou aquele órgão de imprensa. Aí vem a pergunta: como pesquisar 2000 pessoas e projetar os dados para os mais de cem milhões? Para entender isso, é preciso ter em mente que uma parte de um todo em geral representa a totalidade. Por exemplo: se cortarmos um pequeno pedaço de uma maçã e submetê-lo a uma análise, podemos descobrir quais as vitaminas, açucares, fibras e nutrientes que estão presentes numa fruta inteira. Outro detalhe importante é a equipe de coleta de dados que precisa ser confiável e bem treinada. Poderia ocorrer a falsificação de dados por um entrevistador? Sim, é possível, mas os bons institutos de pesquisa checam por amostragem os seus entrevistadores e caso encontre um deles com dados falsificados, todas as entrevistas que ele fez são descartadas. Ninguém quer perder um mês de trabalho por uma bobagem. Outro aspecto importante é que o número de entrevistados numa pesquisa tem um ponto ótimo, ou seja, a partir de um determinado número de entrevistas, os resultados vão se repetir indefinidamente. Portanto, não adianta entrevistar cem mil pessoas (que seria inviável) que os resultados vão ser muito próximos da amostra com apenas 2000 ou 2500. E por fim, a margem de erro, que representa a probabilidade de erro numa determinada amostra. A margem de erro é calculada com base em sofisticadas técnicas estatísticas.

LULA VERSUS BOLSONARO

A última pesquisa Datafolha indica que se nada de novo acontecer, Lula poderá vencer as eleições ainda no primeiro turno. É importante observar que não são somente os percentuais que cada candidato tem na preferência dos eleitores. Existem outras informações bastante relevantes para dar sustentação ao prognóstico, como o índice de rejeição de cada candidato. Bolsonaro tem 55% e isso indica que não passará dos 45% de votos se sua candidatura crescer fortemente até às eleições. Enquanto o Lula, com uma rejeição de 35%, pode alcançar teoricamente até 65% dos votos. É uma vantagem e tanto para o ex-presidente. Outro dado relevante apurado pelo Datafolha, é a avaliação do atual presidente em que 55% dos eleitores o consideram como ruim e péssimo. Sem dúvida um dado muito ruim para quem quer se reeleger. Outra informação levantada é que apenas 17% dos eleitores acreditam em tudo o que o presidente fala. Isso indica que nem todos os possíveis eleitores dele acreditam nele, o que também é ruim para um candidato, pois parte dos seus eleitores poderiam em tese migrar para outro candidato com mais credibilidade. A chamada terceira via se apresentou com a candidata Simone Tebet, resultado da aliança entre dois partidos: PMDB e PSDB e apesar da exposição que teve na mídia nos últimas dias, não deu sinais de vitalidade. Concorrer com dois candidatos, sendo um que já foi presidente por dois mandatos e saiu com grande aprovação e um presidente atual que está todos os dias em exposição de forma positiva ou negativa, não é tarefa simples. Outro detalhe importante: no Brasil o voto é muito personalizado e focado no carisma dos candidatos. Diferentemente dos EUA onde a maioria dos eleitores são republicanos ou democratas, como também nos países europeus em que há uma preferência partidária. Por aqui temos essa tendência cultural do personalismo populista. Isso é antigo entre nós. Tivemos o getulismo que durou décadas, o ademarismo, o janismo, juscelinismo, brizolismo, malufismo, lulismo e agora bolsonarismo. Sem o carisma político dos dois candidatos, dificilmente Simone poderá emplacar. Para ser viável, teria que atrair os eleitores Bolsonaristas que não sejam fanáticos ou seja: entre 10 e 15%. Com isso ela poderia tirar o Bolsonaro da corrida para o segundo turno, quando tentaria atrair os eleitores de centro que tendem a votar no Lula. Como o MDB está dividido, com parte dos candidatos a governador apoiando Lula e o mesmo ocorrendo com o PSDB que se divide entre Lula e Bolsonaro, a candidatura de Simone não para em pé. Ciro Gomes, por sua vez, não deslancha e pode ficar a ver navios, caso seus eleitores resolvam optar pelo voto útil em Lula, o provável herdeiro pela proximidade ideológica. Como 70% dos eleitores já definiram quem será seu candidato, temos 30% que poderão oscilar entre um e outro, confirmando a vantagem que Lula tem até o momento. Enfim, se nada mudar teremos um presidente eleito já no primeiro turno e que ficará quase três meses esperando para tomar posse sob chuvas e trovoadas.

BILHETE PREMIADO

BILHETE PREMIADO Era uma quinta-feira, véspera de um feriadão. O office-boy ia sair para fazer serviço externo e muita gente do departamento aproveitou para pegar um dinheirinho para o final de semana. Naquela época, ainda não existiam agências bancárias nas empresas e era comum os salários serem pagos em dinheiro. Os riscos de assaltos fizeram com que as empresas optassem pelos depósitos em bancos. O garoto era bastante responsável e ninguém imaginava que ele pudesse ser abordado por um malandro e levasse o dinheiro dos colegas. Mas Edinho encontrou um outro tipo de sujeito, que naqueles tempos andavam a solta pelas ruas. Era o vigarista, sujeito com lábia fora do comum que atuando com um comparsa, iludia até os menos incautos. Um deles ficou no banco observando quem sacava dinheiro vivo e depois avisou o comparsa. O vigarista aproximou-se do Edinho ofereceu-lhe um bilhete que dizia premiado. Com a ajuda do cumplice, iludiu o menino, convencendo-o que seria um bom negócio trocar o dinheiro pelo bilhete que era muitas vezes mais do que ele tinha na sacola. Hoje, bastaria arrancar a sacola do menino e correr, mas naqueles tempos existia uma “ética” em que era melhor convencer pela conversa do que pela força. O negócio foi feito e Edinho chegou radiante no escritório para contar a novidade para os colegas. Ninguém acreditou de imediato e acharam que ele estava brincando. Mas não era brincadeira. Ele comprou mesmo o tal bilhete. Foi um choque geral, pois teve gente que tirou o dinheiro para pagar o aluguel, outros para fazer as despesas de mercado. O que fazer? Como o pai do Edinho era um antigo funcionário da empresa, ele foi chamado para reparar as perdas e danos. Era muito dinheiro para o seu bolso de operário e quase dava o seu dava o seu ganho mensal. Além disso, alegou e com razão, que não era correto dar essa responsabilidade para um garoto. A situação ficou tensa, pois caso o pai não reparasse o prejuízo, o menino até poderia perder o emprego e arruinaria a sua carreira, pois o pai lutou muito para conseguir uma vaga para o filho naquela grande empresa. E foi assim que o seu João, um velho mecânico, se desfez da suada poupança e quitou todos os prejudicados pela ingenuidade do seu menino. Chegando em casa Edinho levou uma surra de cinta para largar de ser idiota e passou a entregar religiosamente o salário para o pai. João, criado às antigas, acreditava que só uma surra colocaria o menino nos eixos. Quanto ao bilhete premiado, os colegas colocaram num quadro e penduravam numa parede do departamento para nunca mais ser esquecido. Entrou por uma porta e saiu pela outra quem quiser que compre outro bilhete.

JOSÉ DE ARAÚJO VILLAR (1937 - 2022)

Villar é um velho amigo, amigo daqueles que quando você tem um problema ele não diz vou ajudá-lo, mas vamos resolvê-lo juntos. Generoso ao extremo, sempre estava disposto a ouvir e a participar de soluções. Quem conviveu com ele, sabe sobre o que eu estou escrevendo. Sua vida profissional se confundiu com as grandes amizades que cultivou ao longo de sua carreira, sempre bem-sucedida. Sempre tinha uma solução para todas as situações fossem complexas ou triviais. Sempre calmo e sereno, abria seu coração para todas as pessoas, fossem amigos, funcionários ou subordinados. Sabia ser duro quando se fazia necessário, mas sem nunca perder a ternura, como diria um velho idealista. Gostava de lembrar sobre as dificuldades que passou numa família numerosa e sem muitos recursos. Foi estudar num seminário católico como única maneira de conseguir melhorar de vida. Como não tinha vocação para o sacerdócio, foi buscar a sua realização pessoal estudando e sempre se aperfeiçoando. Cursou Economia, mas foi como gestor de recursos humanos que encontrou uma forma de ajudar as pessoas a ser bem-sucedidas na vida e no trabalho. Depois de longos anos labutando na área, concluiu um mestrado em gestão de RH pela PUCSP e partiu para novas aventuras, treinando profissionais e ajudando empresas a melhorarem o desempenho através das pessoas. Como profissional bem-sucedido, também lecionou em cursos de graduação e pós-graduação, sempre compartilhando conhecimentos com muitos jovens. Aprendi muito com o Villar. Fosse como companheiro de grupos de gestão de pessoas, como consultor ou como como parceiros em cursos e treinamentos de gestão em várias organizações. Tinha um olhar crítico sobre a forma com que muitos empresários e gestores conduziam as suas empresas, mas ao mesmo tempo era um humanista incorrigível. Acreditava nas pessoas e nas suas capacidades de resiliência para superar problemas. Jamais considerava alguém descartável, pois sempre via no ser humano a potencialidade de superação de fraquezas e dificuldades. Era um empreendedor nato. Estava sempre procurando algum desafio, fosse no desenvolvimento de novas estratégias de cursos e técnicas pedagógicas, fosse em novas atividades como empresário. Quando percebia que um empreendimento não iria vingar, não desanimava e começava a pensar em outras possibilidades para criar negócios e gerar empregos. Uma de suas últimas cartadas foi concluir uma graduação em Biomedicina depois dos setenta anos, numa busca de aliar a gestão de pessoas às ciências biológicas. Esse é um pequeno retrato de um grande e generoso amigo, especialista em fazer amizades e ajudar pessoas, que partiu hoje para uma nova e definitiva viagem, talvez buscando uma nova alternativa à esquerda da constelação Orion, sempre procurando novos caminhos e desafios. Perdemos a sua companhia física, mas continuaremos cultivando os ensinamentos e ideias que plantou durante sua rica existência. Deixo para Cecília e seus filhos Helenice Scapol Villar e Heitor Villar, meus sentimentos pela perda do companheiro e pai. Evoé José Villar. Até qualquer dia.

sexta-feira, 8 de abril de 2022

GOLPE OU REVOLUÇÃO?

Hoje completa 58 anos do Golpe Militar de 1964 e ainda se discute se foi golpe ou foi um “movimento”. Palavras... Na Ciência Política golpe é quando ocorre a derrubada pela força de um governante constitucional, ou seja, foi eleito por voto direto ou indireto de acordo com as regras estabelecidas na carta magna de um país. Golpe é um termo considerado pesado e os militares não gostavam e ainda não gostam e preferiam Revolução e hoje Movimento. A bem da verdade o golpe foi o resultado de um complô entre políticos conservadores, empresários, parte da igreja católica e militares. Mas depois de assumirem o poder, os militares chegaram à conclusão que eles governariam melhor o país do que os civis e lá se foram vinte anos com o país sob o domínio dos coturnos. Era uma ditadura envergonhada que fazia eleições para “inglês ver”. Escolhiam os presidentes nos quartéis e depois mandavam os congressistas votarem neles. A diferença das outras ditaduras é que não havia continuísmo. A cada quatro anos escolhiam um novo general. Por outro lado, era uma ditadura igual as outras, pois censurava a imprensa, músicas, teatro, livros e cinema. Cassava o mandato dos políticos que discordavam, prendiam, torturavam e até matavam artistas, líderes sindicais, jornalistas, professores e intelectuais, que faziam oposição ao governo. Lembro-me muito bem dos acontecimentos de 1964. O presidente João Goulart, assumiu o governo para substituir Jânio Quadros que renunciou. Na época o vice-presidente era eleito separadamente e não numa chapa como é hoje. No dia do Golpe, meu pai estava preocupado com os acontecimentos políticos e como era um menino curioso já me interessava por política, fiz a ele várias perguntas que não conseguiu me responder. Foi então que ele me pegou pelo braço e fomos conversar com um amigo político que morava num bairro próximo. Seu Manoel, um vereador que oscilava entre uma postura conservadora e progressista. Foi uma longa conversa que fiquei ouvindo calado, pois criança não podia entrar em conversa dos adultos. Ele também não sabia o que iria acontecer, mas tinha algumas pistas. Jango não voltaria mais para Brasília, pois ainda em solo brasileiro o cargo de presidente foi considerado vago, abrindo as portas para um general assumir o governo. Pensava-se que seria por pouco tempo, apenas o suficiente para tirar os “comunistas” do poder e em seguida seriam convocadas novas eleições. As eleições nunca vieram e a democracia brasileira viveu uma longa noite em trevas. Antes do Golpe, ouvia várias conversas em casa, nos ônibus, no armazém ou na padaria e uma delas me lembro muito bem. Um senhor bem-falante dizia que se ocorresse uma revolução, " o Jango não ficaria no poder, pois era um latifundiário, não um socialista, mas um burguês. Ele seria o primeiro a espirrar, assumindo o comando do país um comitê revolucionário". Em geral o Jango era querido pelo povão como um todo, pois seu discurso populista, ia ao encontro das necessidades dos mais pobres. As chamadas Reformas de Base assustavam muita gente. Meus parentes fazendeiros do interior estavam preocupados, pois os lavradores já falavam em reforma agrária, em divisão dos latifúndios, coisa e tal. O termo mais utilizado na época e durante muito tempo era a Revolução Redentora, que havia salvo o país do comunismo. Meu pai mesmo apoiando o Jango, não era comunista e tinha horror de ouvir falar nisso. Ele votou no Jango para vice-presidente, mas não no Jânio porque o detestava e o considerava falso e mentiroso. Ele tinha uma visão bem negativa do comunismo, pois nosso vizinho russo contava para ele as atrocidades dos comunas quando tomaram o poder sob o governo do Stalin. Ele e sua família conseguiram fugir caminhando durante dias até a fronteira passando fome e frio. Após quase vinte anos os militares entregaram o poder aos civis, mas cuidadosamente, para evitar retaliações. Antes fizeram uma anistia ampla, geral e irrestrita, para que todos fossem perdoados. Com uma hiperinflação e uma dívida externa impagável, deixaram a batata quente com os civis e o Brasil entrou em moratória. Hoje temos um presidente eleito pela maioria da população, que defende explicitamente a ditadura militar e as medidas de exceção, enquanto um governador em seu discurso para a renúncia do cargo para se candidatar a presidente, lembrou da ditadura militar que obrigou seu pai a se exilar na França com a familia, quando ele era um menino de 7 anos.

O NACIONALISMO E AS GUERRAS

O NACIONALISMO E AS GUERRAS O nacionalismo é uma das mais nefastas ideologias, pois sob o pretexto de defender os interesses nacionais, foi ao longo da história o responsável por quase todas as guerras. Na maioria das vezes as guerras são incentivadas pelas burguesias industriais, comerciais ou financeiras, que induzem os governantes a atacarem países concorrentes de seus produtos ou para ampliar os mercados. Outras vezes o desejo de um governante se perpetuar no poder ou para se manter nele quando se sente fraco. Se lança às aventuras e como sempre acontece colocando o povo para morrer pela pátria e ou viver sem razão como diz uma velha canção. A narrativa do Putin para invadir a Ucrânia se insere no segundo caso. Um governante querendo afirmar seu poder autoritário, alegando que o país vizinho fazia parte da Rússia e por isso não deve ser uma nação independente. Ele justifica a invasão alegando que está defendendo os interesses do povo russo. Do povo russo? Que cinismo. Que interesses teriam os russos em incorporar uma nação apenas por razões étnicas e históricas? Os povos criam as suas identidades a partir do isolamento por razões geográficas, políticas e culturais. A partir do momento em que se criou uma identidade como povo, não há possibilidade de retorno às condições anteriores. O próprio Lenin, líder da Revolução Russa de 1917, quando reconheceu essa identidade, criando a República da Ucrânia, com certeza não fez isso do nada. Havia razões históricas, políticas, culturais e sociais para essa decisão. Marx, era um crítico do nacionalismo, pois o considerava um atraso político que atrapalhava o pleno desenvolvimento da consciência de classe. Via essa ideologia como válida apenas quando se tratava de uma luta para a autodeterminação dos povos. No entanto, quando essa autodeterminação só servia para atender aos interesses da burguesia, perdia todo o sentido, pois segundo ele, o povo continuaria sendo explorado pelo capital, agora nacional e não mais pelo colonizador ou nação dominante. Zelensky, apesar de defender o território invadido de forma ilegal, sem um motivo justificável, também apela pelo nacionalismo do povo ucraniano, mas no caso existe um sentido libertário. Ceder ao governo russo seria abdicar do direito do povo ucraniano decidir o seu destino como nação e se submeter ao autoritarismo de Putin. Durante mais de 60 anos os ucranianos, como também todos os povos da antiga URSS, foram submetidos a governantes totalitários, começando com Lenin e depois o cruel Stalin durante 25 anos. Nunca houve democracia no socialismo soviético. As pessoas desapareciam ou eram deportadas para a Sibéria sob qualquer suspeita de questionamento sobre o regime. Os mais velhos devem se lembrar de uma época em que morria um general quase todos os dias. Era muita coincidência. Mesmo revolucionários de primeira hora foram perseguidos e presos com as mudanças de humor do ditador de plantão. E assim, quando chega a oportunidade de se libertarem do jugo autoritário, o nacionalismo russo é usado como pretexto para a Ucrânia se tornar novamente num protetorado russo. Hitler quando resolveu invadir outros países alegando que na Checoslováquia e Polônia existiam cidadãos alemães, na realidade queria mesmo expandir o território germânico e ampliar o controle sobre o comércio em toda Europa. Solano Lopes no século XIX, queria expandir o território paraguaio até o Oceano Atlântico. Para isso, iniciou uma guerra absurda com o Brasil, Uruguai e Argentina que levou a população ao quase genocídio, restando velhos, mulheres e crianças. O General Galtieri, ditador argentino, nos anos 1980, tirou da gaveta uma velha reivindicação dos argentinos sobre as ilhas Malvinas, que estão sob o poder inglês há quase duzentos anos e decidiu invadir as ilhas. Levou uma surra que destruiu a vida de milhares de jovens apenas para mantê-lo mais tempo no poder medindo forças com uma grande potência militar. Derrotado, logo caiu, pois ninguém se sustenta no vácuo. A história está repleta de exemplos de movimentos nacionalistas que resultaram no sofrimento das populações, com grandes hordas de refugiados, crianças órfãs, viúvas com filhos sem amparo, aleijados e economias arruinadas. Será que a pátria amada compensa tudo isso?