GLOBALIZAÇÃO E ETNICIDADE
Resumo
O ideário da globalização no sentido da ruptura das fronteiras nacionais, o desenvolvimento do livre comércio e a possibilidade de inclusão dos países periféricos ao padrão de vida dos países capitalistas centrais parece não estar se concretizando. O que se observa é a ampliação das desigualdades entre as nações e um processo de fragmentação dos Estados Nacionais em decorrência dos conflitos étnicos e dos movimentos de resistência a este modelo econômico.
Abstract
The ideal of the globalization in the sense of the rupture of the national borders, the development of the free trade and the inclusion possibility of the poor countries to the rich countries standard of living don't seem to be rendering. We can to see is the amplification of the inequalities between the nations and people and a process of fragmentation of National States due to the ethnic conflicts and of the resistance movements to this economical model.
Palavras chaves:
Globalização, capitalismo e conflitos étnicos.
Keys Word:
Globalization, capitalism and ethnics conflicts.
INTRODUÇÃO
A proposta deste artigo é uma reflexão sobre uma relevante questão que se apresenta à modernidade: a etnicidade. Por que esses movimentos estão eclodindo de forma ampla em quase toda a extensão do globo, indicando um paradoxo com o ideário da globalização, da mundialização, economia mundo, aldeia global e outras metáforas? Um pressuposto bastante caro à globalização, de acordo com os modernos ideólogos do neoliberalismo como Porter (1999) e Omahe (2000), é de uma sociedade mundial sem fronteiras ou barreiras econômicas ou culturais, proporcionando aos países que abrem suas fronteiras à economia de mercado, a possibilidade de crescimento econômico, inclusão e superação da pobreza e da desigualdade social.
Entretanto, as resistências ao processo de mundialização econômica demonstram que a teoria do fim da história formulada por Fukuyama (1992), indicando o ocaso da luta de classe e o conseqüente triunfo definitivo do capitalismo neoliberal, dá sinais claros de esgotamento. Nesse imbroglio, ao invés da homogeneização, o que se observa é a fragmentação, com o fortalecimento ou mesmo o ressurgimento de movimentos étnicos, buscando a reafirmação das identidades de povos até então obscurecidas em Estados Nacionais.
A própria versão da globalização, como uma teoria acadêmica, vem encontrando fortes resistências, abrindo-se perspectivas para o surgimento de teorias alternativas a este modelo. A globalização é um constructo ideológico do modelo econômico neoliberal, formulado com base na realidade que visa fundamentalmente ocultar essa mesma realidade. A idéia, propagada pelos arautos da globalização, de homogeneização do padrão de vida existente nos países centrais ou hegemônicos para os países periféricos é uma utopia, pois sempre haverá uma hierarquia no sistema, que é fundamental para a sua existência como tal (Wallerstein, 1996).
Mesmo ideólogos do neoliberalismo, após a breve euforia universalizante que se seguiu ao colapso do “socialismo soviético”, já admitem, que, nesta “nova ordem mundial” que tanto edulcoraram, não haverá lugar para todos (seres humanos e países) (Almeida, 1997:177).
Dessa forma, esse sistema tem acirrado as desigualdades e ampliado o nível de pobreza, com o desencadeamento de crises regionais e fomentação dos movimentos étnicos através da fragmentação de estruturas sociais, reduzindo a capacidade de intervenção dos Estados Nacionais para o estabelecimento de um equilíbrio estável.
Etnicização
Os movimentos de etnicização estariam relacionados ao processo de globalização gerando movimentos de xenofobia em várias partes do mundo ou esses seriam movimentos espontâneos sem nenhuma relação direta com o processo de mundialização das economias? Para esta questão não se pode deixar de considerar a diversidade cultural, as classes sociais, as tribos, nações, indivíduos, pois são eles e não países e organizações empresariais que na realidade se globalizam (Ianni, 1999).
Habermas (2000) lembra também que a estruturação do sistema produtivo em redes, favorece a multiplicação de contatos e informações, mas não possibilita, necessariamente, um mundo compartilhado. A possibilidade dos processos sistêmicos adquirirem vida própria, e poderá levar a um processo de fragmentação, com múltiplas aldeias globais, isoladas e sem pontos de contato entre elas. Em conseqüência, a globalização pode favorecer a xenofobia, resultando nos chamados processos de “limpeza étnica”, em que identidades nacionais majoritárias, por razões de natureza econômica, religiosa ou mesmo política, desenvolvem fobia aos diferentes, como um vírus ameaçador.
A xenofobia é vista como o medo do “vírus externo”. São todos os sintomas de desorientação social, do esgarçamento e, às vezes, da ruptura dos fios do tecido social que ligava as pessoas na sociedade. A força dessa xenofobia é o medo do desconhecido, das trevas em que podemos cair quando desaparecem os marcos que parecem proporcionar uma delimitação objetiva (Hobsbawn, 2000). “Xenofobia parece estar-se tornando a ideologia de massa deste “fin de siécle”. O que hoje une a humanidade é a negação de que a espécie humana tem em comum”. (p.282).
Numa perspectiva política e econômica, Poulantzas (1998), entende que a internacionalização intensiva do capital provoca o fracionamento das nações, pois longe de representar um processo de cooperação internacional, corresponde, a rigor, na acumulação ampliada do capital global sob controle da nação hegemônica, criando novas estruturas de dependência e gerando a desarticulação interna das formações nacionais e das economias. É sobre esta desarticulação que são criadas as raízes da desintegração das unidades nacionais capitalistas. Essa posição nega ou omite a interferência de fatores étnicos e culturais nos movimentos de reafirmação de identidades étnicas regionais, estando vinculados apenas com o processo de internacionalização do capital.
Não é possível também afirmar que os atuais movimentos de etnicidade estão desvinculados do sistema capitalista de produção, pois as condições materiais da sociedade podem engendrar determinadas relações sociais e culturais, gerando, por conseqüência, atitudes etnocêntricas em função das contradições sociais e econômicas presentes na sociedade. A apregoada união dos povos e das culturas, utilizada como discurso ideológico dos defensores da globalização, não se realiza nem no nível simbólico, pois as fronteiras “permeáveis” do mundo globalizado se fecham cada vez mais para as populações do Terceiro Mundo, com o elevado nível de discriminação das culturas não ocidentais (Bogus, 1997).
Para Breuilly (2001) a identidade étnica não é novidade, mas pelo contrário, existe há séculos ou talvez há milênios. Assim, esses movimentos de identidade não estariam relacionados aos modos de produção historicamente estabelecidos, mas às formas básicas de convivência social ao longo do processo do desenvolvimento humano. Smith, apud Breuilly define ethnie como “populações humanas” dotadas de um nome, com mitos ancestrais, histórias e culturas comuns, associadas a um território específico e a um sentimento de solidariedade. Poutgnat e Streift-Fenart (1997), numa interpretação weberiana do sentido da etnicidade, afirmam: “... a etnia, como a nação, fica do lado da crença do sentimento da representação coletiva, contrariamente à raça, que fica do lado do parentesco biológico efetivo” (p. 41).
A etnicidade deve ser debatida no contexto da globalização, como uma construção social. A abordagem genética da etnicidade não se reveste de importância para o estudo do fenômeno, pois o que efetivamente importa é compreendê-la como uma construção, um elemento da cultura dos povos (Hobsbawn, 2000). É preciso também considerar que houve uma evolução no debate em torno desta questão, pois “o que se observa de diferente nessa xenofobia é que o debate gira em torno das diferenças culturais e da conduta social, e não mais da superioridade biológica” (Wallerstein e Balibar apud Bogus, 1997). Neste sentido, parece justo concordar com Hobsbawn quando ele afirma que raros são os grupos étnicos que apresentam homogeneidade em termos fenótipos que justificaria alguma importância biológica. A maioria dos chamados grupos étnicos é formada por várias etnias e ou “raças”, cujas identidades grupais estão ligadas a valores culturais, religiosos ou mesmo de natureza política e econômica.
Na perspectiva cultural de Poutignat e Streiff-Fenart (1997), a etnicidade é vista como o processo pelo qual as pessoas, por meio das diferenças culturais, comunicam idéias sobre a distintividade humana e tentam resolver problemas de significação. Neste contexto, a língua torna-se importante não apenas como um repositório da cultura e da memória nacionais, um armazém de mitos, mas também como uma questão de interesse político, econômico, jurídico e educacional. (Breully: 2000). Entretanto, a língua escrita padronizada utilizada para representar a etnia ou a nacionalidade, é uma construção social, historicamente recente (século XIX e até posterior), como afirma Hobsbawn (2000). A Itália é um exemplo acabado de um idioma nacional utilizado por menos de cinco por cento da população da península na época da unificação. Assim, o papel de uma língua nacional padronizada com vistas à entronização dos valores de uma nacionalidade, verdadeiros ou falsos, é essencial no sentido da criação de uma identidade.
A etnia, por outro lado, seja ela qual for, não é programática e muito menos constitui um conceito político. Em certas circunstâncias, pode adquirir funções políticas e, por conseguinte, ver-se associada a projetos, inclusive nacionalistas e separatistas (Hobsbawn, 2000). Modernamente, há vários exemplos de utilização da etnia para formulação de projetos de formação de Estados Nacionais, não importando se são economicamente ou estrategicamente viáveis.
Para Hobsbawn (2000), são poucos os movimentos nacionalistas modernos que estão fundamentados em algum tipo de consciência étnica. Na maioria das vezes, podem estar ligados a elementos religiosos ou mesmo econômicos, fato que não impedirá que no futuro, esses mesmos grupos desenvolvam atitudes de discriminação racial e de intolerância. Um exemplo atual desse fenômeno é o conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. A origem do conflito está vinculada ao processo de ocupação do território irlandês pelos ingleses no século XVII que se apropriaram das melhores terras, desalojando a população local, predominantemente católica.
Registre-se também que o nacionalismo moderno não pode prescindir de uma identidade étnica forte e persistente para poder se viabilizar (Breuilly, 2001). Essa identidade pode ser construída a partir de elementos ideológicos, sedimentados através do processo de educação em que o idioma tem uma importância fundamental. Entre os franceses foi construído o mito de que são descendentes dos gauleses e não dos francos, povo germânico, que ocupou a atual França. Mesmo sendo historicamente incoerente, esta versão foi incentivada por ideólogos como Gobineau com o objetivo de criar uma identidade nacional distinta dos alemães. (Hobsbawn, 1998).
A idéia de nação pode ter significados pouco dignificantes, pois eles podem possibilitar a expressão de políticas de exclusão no sentido mais perverso, como o racismo nazista. A constituição da nação alemã serviu de instrumento para garantir a mobilização da população em favor de políticas suicidas. Sob uma perspectiva histórica, é interessante lembrar também, que o conceito de nação está associado, no passado, a idéia de rechaçar tudo o que é diferente, estrangeiro, aumentando a rejeição às outras etnias, outras religiões e minorias nacionais (Habermas, 2000).
Etnicidade e condição social
Em alguns casos a classificação racial se identifica com a posição social, sem nenhuma relação com caracteres fenótipos. É o exemplo de países andinos como Peru e Colômbia, onde os indígenas que se agrupam às classes sociais de nível inferior, são classificados como “mestiços” ou cholos, independente dos traços físicos que possam ter (Hobsbawn, 1998). Em outros exemplos como os irlandeses ou italianos nos EUA, o preconceito manifestado pelas populações de origem inglesa, não apresenta nenhuma relação com o fenótipo, pois não importa se são brancos, mestiços ou negros. O que importa no caso é a origem e condição sócio-econômica.
Alguns autores defendem que as divisões étnicas e raciais também podem ser vistas sob um quadro mais amplo da exploração do capital sobre o trabalho. Assim podem preencher a função de uma ideologia que justifica a criação de uma força de trabalho barata ou um exército industrial de reserva. Bonacich (1972), apud Pontgnat e Streff-Fenart (1998), afirma que os antagonismos entre imigrados e nativos estão fundamentados na segmentação do mercado de trabalho: a divisão dos trabalhadores de acordo com critérios étnicos ou raciais não deriva de preconceitos em relação a pessoas de outras “etnias”, mas a tendência do capitalismo estabelecer o menor valor possível para o trabalho. Afirmar isso seria negar o etnocentrismo como um componente da cultura universal, que é o ponto de vista segundo o qual, cada povo valoriza seu modo de vida em relação aos demais e é originário do processo inicial de endoculturação (Herskovitch, 1971).
Wallerstein (1988), apud Poutingnat e Streiff-Fenart (1998) numa percepção marxista tradicional, acredita que a etnicidade pode ter um papel na dissimulação do conflito de classe e, na hipótese de serem superadas as contradições inerentes a este conflito, as diferenças étnicas desapareceriam, abrindo espaço para uma sociedade harmônica. Nessa hipótese, a identidade étnica não seria uma construção da noção de um povo, mas apenas uma forma de ocultar os interesses econômicos e sociais de classe. Essa hipótese poderia induzir à idéia de que a classe dominante estaria incentivando esses conflitos como mecanismo de ocultação ideológica de uma realidade.
Outra hipótese que pode ser aventada, é que os conflitos étnicos surgem a partir da constatação de que os imigrados podem estabelecer concorrência direta com os nativos, gerando assim conflito de interesse na disputa pelo mercado de trabalho. Essa situação se aplica em momentos de crise econômica com a ampliação do nível de desemprego. Os trabalhadores ameaçados com o desemprego se voltam contra os imigrados ou outras minorias como se fossem uma ameaça perigosa ao “status quo” e não contra o sistema capitalista que manipula de acordo com seus interesses a oferta de postos de trabalho.
Ressalte-se também, que competição acirrada por empregos no processo de globalização cria um exército industrial de reserva em nível global, possibilitando ao capitalismo o gerenciamento do fluxo de capitais de acordo com as possibilidades de acumulação crescente. Esse mecanismo deixa os movimentos trabalhistas à mercê da movimentação dos capitais em escala mundial, transferindo um problema que é sistêmico, para o âmbito particular de cada formação nacional.
No entanto, em épocas em que ocorre um certo equilíbrio entre oferta e procura de força de trabalho, os trabalhadores seriam levados a abandonar ou atribuir menos importância às auto-representações recíprocas, apagando-se ou reduzindo-se as manifestações discriminatórias (Ianni, 1982). Assim, as discriminações contra os trabalhadores brasileiros em Portugal, mesmo os brancos e bem educados, estariam relacionados mais a disputa pelo mercado de trabalho. Da mesma forma a discriminação contra os trabalhadores de outras regiões em São Paulo, que expõe de forma cruel à desigualdade e a miséria, ampliando o número de favelas e moradores de rua, representaria muito mais o medo do “contágio” do que necessariamente um movimento de afirmação étnica contra os diferentes.
A questão econômica é portanto relevante, pois “está sobrando gente, não só no Brasil, mas em escala planetária” (Almeida, 1997:182). Assim, os estratos dominantes transferem para o nível dos trabalhadores o conflito inevitável entre o capital e o trabalho, pois disputando empregos para garantir a sobrevivência, deixa-se de colocar em debate questões essenciais.
Sob uma outra perspectiva, Chomski (2000), chama a atenção para o fato de que os conflitos étnicos podem surgir de uma guerra disfarçada, ocultada ideologicamente sob uma falsa realidade. É o combate ao crime, a “Guerra das drogas”, nos EUA. que tem um alvo preciso, os afro-americanos, estabelecendo uma correlação entre raça e classe social, que torna natural o processo repressivo. “Homens negros são considerados população criminosa” (2000: 39). O racismo neste caso é mais claro, pois se cria o estereótipo de que os diferentes, as minorias, são naturalmente incapazes, violentos, sujos e facilmente atraídos para o crime e que por isso precisam ser excluídos de qualquer programa de recuperação.
A reestruturação global pode não ficar nos limites de etnias, “raças”, culturas, grupos religiosos, mas pode atingir também os gêneros. Arrighi e Silver (2000), defendem a hipótese que o trabalhador masculino é uma “espécie ameaçada de extinção”, e que as transformações econômicas estão criando novos agentes e fontes de conflito. Também, a utilização intensiva de mão-de-obra feminina pode ser interpretada como a busca incessante do capital por mão-de-obra abundante, ampliando o “exército de reserva”, não só nas linhas de produção, como também nos postos administrativos de alto nível. Kurt (1994) apud Arrighi e Silver, lembra que o maior movimento político da segunda metade do século XX foi o das mulheres que saíram de casa para as fábricas e escritórios. Daí surgiram os movimentos políticos como o feminismo, com várias demandas como a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Esse movimento produziu reações violentas por parte de grupos conservadores que defendiam valores tradicionais nas relações entre gêneros, criando novos focos de conflitos.
Considerações finais
Enfim é preciso ter em mente que todos vivemos em sociedades pluralistas, que se distanciam mais e mais do formato do Estado Nacional baseado numa população mais ou menos homogênea em termos culturais. A diversidade das formas culturais de vida, dos grupos étnicos, das visões de mundo e das religiões já é imensa, ou pelo menos está em franca expansão. Excetuadas as políticas desumanas de “limpeza étnica”, não há alternativa para essa rota em direção a sociedades multiculturais (Habermas, 2000).
Corroborando a idéia de que viveremos numa sociedade cada vez mais pluralista, dados do Banco Mundial (1995), estimam que cerca de 125 milhões de pessoas vivem fora de seus países de origem, procedendo cada vez mais de países pobres em direção aos países mais ricos. Esse número é sempre crescente e gera a perspectiva de que os conflitos étnicos podem ser multiplicados ao longo dos anos. Com esses dados, é possível que o biólogo Edward Wilson (2002), esteja certo ao afirmar que a homogeneização genética da população mundial através da miscigenação, é uma tendência irreversível e as chamadas raças biológicas devem ficar cada vez mais indistintas a cada geração.
Anderson (2000) considera também que a chegada dessas populações nos mais variados países, representa um enorme desafio para os Estados Nações, pois pode representar uma ameaça à auto-imagem das populações tradicionais. Os estrangeiros são normalmente diferentes, com variadas cores de pele, diversas línguas, hábitos, comportamentos, muitas vezes bastantes diferentes dos padrões conhecidos pelas populações locais. Em alguns casos, para evitar problemas de rejeição,tenta-se restringir a entrada de imigrantes aos descendentes que imigraram para outros países como foi o caso do Japão. Entretanto, os imigrantes brasileiros de origem japonesa que ingressaram no país como “dekasseguis”, apesar da aparência, são culturalmente brasileiros, bastante diferentes dos padrões locais. É essa diferença, de natureza cultural, que leva a discriminação e as dificuldades de integração dos brasileiros no Japão, apesar de serem, aparentemente, japoneses.
E a cidadania, como seria colocada frente a esta discussão sobre etnicidade, conflitos étnicos, discriminação etc.? Vieira (2001) lembra que nas sociedades multiculturais, a cidadania é uma dimensão política diferente da base étnico-cultural do Estado Nação. O Estado é o lugar de todos os cidadãos, mas a pessoa humana é mais do que apenas um cidadão nacional: é judeu, católico, mulher, negro etc. Essa posição merece reparos, pois a preservação da identidade grupal, religiosa ou cultural, pode ser também, um grande desafio para as ciências sociais e para os Estados Nacionais no futuro, pois a identidade não pode prescindir da cidadania, que implica, fundamentalmente, no reconhecimento e aceitação das diferenças, convivendo-se harmonicamente com elas. Se a preservação da identidade religiosa, cultural, racial e de gênero implicar na exclusão ou na discriminação do outro, estarão lançadas as bases para o recrudescimento dos conflitos.
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segunda-feira, 16 de junho de 2008
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